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Fratura Pélvica no Trauma: Por Que Essa Lesão é Uma das Emergências Mais Graves da Ortopedia

No contexto do trauma, poucas lesões representam tamanha gravidade quanto a fratura pélvica. Muito além de um dano ósseo isolado, essa condição envolve risco elevado de instabilidade hemodinâmica, hemorragia maciça e lesões associadas em múltiplos sistemas. Entender sua complexidade é fundamental para profissionais da saúde, estudantes e para qualquer pessoa que deseje compreender por que a pelve tem papel determinante na sobrevivência do paciente politraumatizado.

Fratura em livro aberto
Fisio Runner Brasil

A seguir, você encontrará um guia completo, baseado em literatura atual e princípios validados no atendimento ao trauma, explicando os mecanismos, riscos e estratégias de manejo dessa lesão crítica.


Por que a fratura pélvica é considerada uma emergência crítica?


A pelve forma um dos anéis ósseos mais importantes do corpo humano. Além de sustentar o esqueleto axial, ela protege estruturas vitais e abriga uma das regiões com maior concentração vascular do organismo. Quando há ruptura do anel pélvico, especialmente em padrões instáveis, ocorre um fenômeno perigoso:o aumento abrupto do volume da cavidade pélvica, capaz de acumular até 4 litros de sangue sem sinais externos imediatos.

Essa combinação faz com que as fraturas pélvicas de alta energia apresentem taxa de mortalidade que pode chegar a 50%, especialmente quando associadas ao choque hemorrágico.

Dois fatores tornam essa lesão tão grave:


1. Proteção de múltiplos órgãos

O anel pélvico abriga porções do sistema urinário, digestivo e reprodutor. Fraturas deslocadas podem perfurar ou comprimir diretamente essas estruturas, causando lesões complexas de difícil manejo.


2. Rede vascular extensa e vulnerável

A região pélvica reúne vasos calibrosos (artérias e veias ilíacas) e um grande plexo venoso posterior.Mais de 85% das hemorragias pélvicas são venosas ou provenientes de superfícies ósseas fraturadas, o que reforça a urgência na estabilização mecânica precoce para restaurar o “tamponamento” natural da região.


Mecanismos de lesão e classificações mais utilizadas


As fraturas pélvicas geralmente resultam de traumas de alta energia, como colisões automobilísticas, atropelamentos, quedas de altura ou esmagamentos. Em idosos, porém, devido à fragilidade óssea, até traumas de menor impacto podem gerar fraturas significativas.

Três mecanismos principais orientam a avaliação inicial:


1. Compressão Anteroposterior (APC)

Gera o padrão conhecido como “livro aberto”, no qual a pelve se abre anteriormente. É um dos mecanismos mais perigosos, pois aumenta o volume pélvico e facilita hemorragias massivas.


2. Compressão Lateral (LC)

Ocorre quando a força vem do lado, “fechando” o anel pélvico. É o mecanismo mais frequente.


3. Cisalhamento Vertical (Vertical Shear)

Típico de quedas de altura. Uma hemipelve se desloca para cima, rompendo ligamentos fortes e gerando instabilidade extrema.

Esses mecanismos fundamentam classificações importantes como:

  • Young-Burgess — foca no padrão de força e no risco de hemorragia.

  • Tile — avalia o grau de instabilidade mecânica (A: estável / B: parcialmente instável / C: completamente instável).

Ambas são essenciais para guiar condutas e prever complicações.


Hemorragia pélvica: o verdadeiro fator letal


O maior risco das fraturas pélvicas não está no osso fraturado, mas sim na perda sanguínea oculta. O retroperitônio pode acumular litros de sangue enquanto o paciente apresenta sinais mínimos externamente.Por isso, no trauma, qualquer suspeita de instabilidade pélvica já justifica intervenção imediata.


As principais fontes de sangramento são:

  • Plexo venoso sacral

  • Superfícies ósseas fraturadas

  • Artérias ilíacas (menos comum, porém mais grave)

Essa fisiopatologia explica por que a estabilização precoce da pelve é um dos pilares no atendimento ao trauma grave.


Avaliação no politrauma: diferenciando a origem do choque


Quando um paciente com fratura pélvica chega instável hemodinamicamente, uma pergunta é crucial:

O sangramento vem da pelve, do abdômen, ou de ambos?

A principal ferramenta inicial é o exame FAST:


FAST positivo

Indica sangue na cavidade abdominal → forte suspeita de lesão de órgãos sólidos → tendência a laparotomia de emergência.


FAST negativo

Sugere com maior probabilidade hemorragia retroperitoneal decorrente da fratura pélvica → prioridade na estabilização da pelve e possível embolização.

Além disso, fraturas pélvicas frequentemente coexistem com:


  • Lesões torácicas

  • Fraturas de ossos longos

  • TCE

  • Lesões abdominais

  • Lesões de bexiga e uretra

  • Trauma raquimedular

Esse cenário exige abordagem multidisciplinar imediata.


Manejo inicial: sinais de vida dependem da estabilização pélvica


A abordagem inicial segue princípios da reanimação hemostática moderna:


1. Estabilização mecânica imediata

A aplicação de um cinturão pélvico (pelvic binder) ou, na ausência deste, um lençol firme, é a medida mais rápida e eficaz.

Local correto:📌 Sempre sobre os trocânteres maiores, nunca na crista ilíaca.

Isso reduz o volume da pelve, aproxima fragmentos, melhora o tamponamento e reduz a hemorragia.


2. Reanimação volêmica guiada

  • Estratégia 1:1:1 (hemácias, plasma, plaquetas)

  • Restrição de cristaloides

  • Hipotensão permissiva (quando não há TCE grave)

Persistindo instabilidade hemodinâmica, medidas avançadas incluem:

  • Fixação externa de emergência

  • Arteriografia com embolização

  • Cirurgias de controle de danos


Tratamento definitivo: conservador ou cirúrgico?

Depois da fase aguda, avalia-se a estabilidade e o padrão da fratura:


Tratamento conservador

Indicado para fraturas estáveis (Tile A), sem comprometimento ligamentar significativo. Consiste em analgesia, repouso breve e mobilização precoce.


Tratamento cirúrgico

Indicado para fraturas parcialmente ou totalmente instáveis (Tile B e C).

Objetivo: restaurar a anatomia e permitir reabilitação rápida, reduzindo complicações.


Fraturas pélvicas em idosos: um desafio silencioso

Em idosos, mesmo fraturas consideradas estáveis podem gerar:

  • Dor intensa

  • Imobilidade prolongada

  • Trombose venosa profunda

  • Pneumonia

  • Sarcopenia acelerada

Por isso, a mobilização precoce e o acompanhamento fisioterapêutico são fundamentais para reduzir morbidade e mortalidade.


Conclusão

A fratura pélvica é uma das emergências mais complexas do trauma. Seu manejo eficaz depende de reconhecer o mecanismo, identificar o risco de hemorragia e agir rapidamente para estabilizar o anel pélvico.


A estabilidade mecânica influencia diretamente a estabilidade hemodinâmica — por isso, “fechar o anel” é uma medida que salva vidas.


A Fisio Runner Brasil é referência em Fisioterapia Traumato-Ortopédica em Natal.

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