Fratura Pélvica no Trauma: Por Que Essa Lesão é Uma das Emergências Mais Graves da Ortopedia
- Dr. Herberton Araújo - Fisioterapeuta

- há 13 minutos
- 4 min de leitura
No contexto do trauma, poucas lesões representam tamanha gravidade quanto a fratura pélvica. Muito além de um dano ósseo isolado, essa condição envolve risco elevado de instabilidade hemodinâmica, hemorragia maciça e lesões associadas em múltiplos sistemas. Entender sua complexidade é fundamental para profissionais da saúde, estudantes e para qualquer pessoa que deseje compreender por que a pelve tem papel determinante na sobrevivência do paciente politraumatizado.

A seguir, você encontrará um guia completo, baseado em literatura atual e princípios validados no atendimento ao trauma, explicando os mecanismos, riscos e estratégias de manejo dessa lesão crítica.
Por que a fratura pélvica é considerada uma emergência crítica?
A pelve forma um dos anéis ósseos mais importantes do corpo humano. Além de sustentar o esqueleto axial, ela protege estruturas vitais e abriga uma das regiões com maior concentração vascular do organismo. Quando há ruptura do anel pélvico, especialmente em padrões instáveis, ocorre um fenômeno perigoso:o aumento abrupto do volume da cavidade pélvica, capaz de acumular até 4 litros de sangue sem sinais externos imediatos.
Essa combinação faz com que as fraturas pélvicas de alta energia apresentem taxa de mortalidade que pode chegar a 50%, especialmente quando associadas ao choque hemorrágico.
Dois fatores tornam essa lesão tão grave:
1. Proteção de múltiplos órgãos
O anel pélvico abriga porções do sistema urinário, digestivo e reprodutor. Fraturas deslocadas podem perfurar ou comprimir diretamente essas estruturas, causando lesões complexas de difícil manejo.
2. Rede vascular extensa e vulnerável
A região pélvica reúne vasos calibrosos (artérias e veias ilíacas) e um grande plexo venoso posterior.Mais de 85% das hemorragias pélvicas são venosas ou provenientes de superfícies ósseas fraturadas, o que reforça a urgência na estabilização mecânica precoce para restaurar o “tamponamento” natural da região.
Mecanismos de lesão e classificações mais utilizadas
As fraturas pélvicas geralmente resultam de traumas de alta energia, como colisões automobilísticas, atropelamentos, quedas de altura ou esmagamentos. Em idosos, porém, devido à fragilidade óssea, até traumas de menor impacto podem gerar fraturas significativas.
Três mecanismos principais orientam a avaliação inicial:
1. Compressão Anteroposterior (APC)
Gera o padrão conhecido como “livro aberto”, no qual a pelve se abre anteriormente. É um dos mecanismos mais perigosos, pois aumenta o volume pélvico e facilita hemorragias massivas.
2. Compressão Lateral (LC)
Ocorre quando a força vem do lado, “fechando” o anel pélvico. É o mecanismo mais frequente.
3. Cisalhamento Vertical (Vertical Shear)
Típico de quedas de altura. Uma hemipelve se desloca para cima, rompendo ligamentos fortes e gerando instabilidade extrema.
Esses mecanismos fundamentam classificações importantes como:
Young-Burgess — foca no padrão de força e no risco de hemorragia.
Tile — avalia o grau de instabilidade mecânica (A: estável / B: parcialmente instável / C: completamente instável).
Ambas são essenciais para guiar condutas e prever complicações.
Hemorragia pélvica: o verdadeiro fator letal
O maior risco das fraturas pélvicas não está no osso fraturado, mas sim na perda sanguínea oculta. O retroperitônio pode acumular litros de sangue enquanto o paciente apresenta sinais mínimos externamente.Por isso, no trauma, qualquer suspeita de instabilidade pélvica já justifica intervenção imediata.
As principais fontes de sangramento são:
Plexo venoso sacral
Superfícies ósseas fraturadas
Artérias ilíacas (menos comum, porém mais grave)
Essa fisiopatologia explica por que a estabilização precoce da pelve é um dos pilares no atendimento ao trauma grave.
Avaliação no politrauma: diferenciando a origem do choque
Quando um paciente com fratura pélvica chega instável hemodinamicamente, uma pergunta é crucial:
O sangramento vem da pelve, do abdômen, ou de ambos?
A principal ferramenta inicial é o exame FAST:
FAST positivo
Indica sangue na cavidade abdominal → forte suspeita de lesão de órgãos sólidos → tendência a laparotomia de emergência.
FAST negativo
Sugere com maior probabilidade hemorragia retroperitoneal decorrente da fratura pélvica → prioridade na estabilização da pelve e possível embolização.
Além disso, fraturas pélvicas frequentemente coexistem com:
Lesões torácicas
Fraturas de ossos longos
TCE
Lesões abdominais
Lesões de bexiga e uretra
Trauma raquimedular
Esse cenário exige abordagem multidisciplinar imediata.
Manejo inicial: sinais de vida dependem da estabilização pélvica
A abordagem inicial segue princípios da reanimação hemostática moderna:
1. Estabilização mecânica imediata
A aplicação de um cinturão pélvico (pelvic binder) ou, na ausência deste, um lençol firme, é a medida mais rápida e eficaz.
Local correto:📌 Sempre sobre os trocânteres maiores, nunca na crista ilíaca.
Isso reduz o volume da pelve, aproxima fragmentos, melhora o tamponamento e reduz a hemorragia.
2. Reanimação volêmica guiada
Estratégia 1:1:1 (hemácias, plasma, plaquetas)
Restrição de cristaloides
Hipotensão permissiva (quando não há TCE grave)
Persistindo instabilidade hemodinâmica, medidas avançadas incluem:
Fixação externa de emergência
Arteriografia com embolização
Cirurgias de controle de danos
Tratamento definitivo: conservador ou cirúrgico?
Depois da fase aguda, avalia-se a estabilidade e o padrão da fratura:
Tratamento conservador
Indicado para fraturas estáveis (Tile A), sem comprometimento ligamentar significativo. Consiste em analgesia, repouso breve e mobilização precoce.
Tratamento cirúrgico
Indicado para fraturas parcialmente ou totalmente instáveis (Tile B e C).
Objetivo: restaurar a anatomia e permitir reabilitação rápida, reduzindo complicações.
Fraturas pélvicas em idosos: um desafio silencioso
Em idosos, mesmo fraturas consideradas estáveis podem gerar:
Dor intensa
Imobilidade prolongada
Trombose venosa profunda
Pneumonia
Sarcopenia acelerada
Por isso, a mobilização precoce e o acompanhamento fisioterapêutico são fundamentais para reduzir morbidade e mortalidade.
Conclusão
A fratura pélvica é uma das emergências mais complexas do trauma. Seu manejo eficaz depende de reconhecer o mecanismo, identificar o risco de hemorragia e agir rapidamente para estabilizar o anel pélvico.
A estabilidade mecânica influencia diretamente a estabilidade hemodinâmica — por isso, “fechar o anel” é uma medida que salva vidas.
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